Microsoft e Nvidia: Domínio na Inteligência Artificial e Desafios Regulatórios

Microsoft e Nvidia: Domínio na Inteligência Artificial e Desafios Regulatórios

Microsoft e Nvidia estão liderando a corrida da inteligência artificial (IA), mas entraram na mira das instâncias anticartel dos EUA. Enquanto isso, alguns especialistas pedem normas mais rígidas, e outros temem uma retração do setor.

Com enorme rapidez, a Microsoft e a Nvidia assumiram a dianteira na revolução da IA. Ambas estão entre as três maiores companhias do mundo, com um valor de mercado combinado de 6,6 trilhões de dólares. O sucesso recente da Microsoft repousa em sua aposta de 13 bilhões de dólares na OpenAI, a startup por trás do chatbot ChatGPT. Já a Nvidia ostenta os chips mais avançados do mundo, cruciais para a operação de sistemas de IA de alto desempenho.

Essa bonança, entretanto, chamou a atenção das autoridades anticartel dos Estados Unidos. No início de junho, o Departamento de Justiça (DOJ) e a Comissão Federal de Comércio (FTC) fecharam um acordo para investigar o domínio de ambas as gigantes tecnológicas no setor de IA.

Investigação Reguladora

A FTC focará na proximidade entre Microsoft e OpenAI, cuja empresa-matriz é sem fins lucrativos. O DOJ, por sua vez, se concentrará na vantagem competitiva da Nvidia. Detendo 80% do mercado de semicondutores de IA, a Nvidia é atualmente avaliada em 3,32 trilhões de dólares, ante 364 bilhões apenas dois anos atrás.

Simonetta Vezzoso, advogada e economista da Universidade de Trento, critica: A big tech ganhou poder demais nos últimos 15 anos, e os reguladores estavam dormindo no volante. Agora temem que isso esteja se repetindo com a IA e querem evitar isso.

Impacto nas Startups

As startups necessitam grande volume de dados, espaço de armazenamento e capacidade de processamento para treinar seus chatbots de IA, o que, segundo reguladores, torna as gigantes poderosas demais. Há indícios de que empresas menores estão sendo forçadas a fechar acordos exclusivos e opacos para utilizar a tecnologia da Nvidia, Microsoft e suas rivais, conferindo ainda mais vantagem aos players dominantes.

As autoridades anticartel desejam proteger a inovação das startups. Esses acordos vêm com muitas amarras, então a big tech poderia estar opondo obstáculos a essa competição, alerta Vezzoso. Em uma conferência sobre inteligência artificial na Universidade de Stanford, no início de junho, o procurador-geral assistente da Divisão Anticartel do DOJ, Jonathan Kanter, confirmou que poderosos efeitos de rede podem permitir às empresas dominantes controlarem esses novos mercados de IA.

A aquisição da Inflection AI – startup responsável pelo app assistente pessoal Pi – pela Microsoft em março, por 650 milhões de dólares, também levantou críticas. Alguns suspeitam que o acordo foi elaborado para contornar normas de transparência para fusões. A Microsoft comprou a Inflection sem comprar, afirma Pedro Domingos, professor emérito de informática da Universidade de Washington. Ela a partiu em pedaços, contratou a maioria de seus funcionários e pagou compensações para os investidores.

Para os reguladores, a falta de fiscalização em fusões anteriores resultou na aquisição, pelas grandes empresas de tecnologia, de centenas de startups que poderiam ter revolucionado o setor ainda mais. Por isso, o impacto sobre a inovação será central nas investigações. Buscando remediar a situação, os reguladores antimonopólio querem agir rapidamente e reverter o ônus da prova para as gigantes da tecnologia. Vezzoso, consultora externa do grupo de direitos humanos Article 19, defende medidas muito firmes para a big tech, se necessário.

Controle Estatal e o Futuro da IA

Domingos acha engraçado abrir processos anticartel não por danos causados, mas pelos que poderão ocorrer, lembrando como o diretor executivo da Meta, Mark Zuckerberg, disse que o Instagram não seria o sucesso que é hoje se o Facebook não o tivesse comprado. O Facebook deu ao Instagram uma enorme infraestrutura e expertise que ele não tinha. No futuro, pode-se aplicar o mesmo raciocínio à Microsoft, Nvidia e todas as startups que elas vêm comprando, propõe o autor do livro The Master Algorithm: How the Quest for the Ultimate Learning Machine Will Remake Our World.

Neste ano eleitoral de 2024, o presidente dos EUA, Joe Biden, prometeu escrutínio das gigantes tecnológicas como prioridade de seu governo. Alguns juristas veem uma abordagem mais colaborativa entre a FTC e o DOJ para coibir práticas comerciais no Vale do Silício. As agências costumavam dividir os casos de acordo com o setor, mas como esse mercado é tão grande e importante para a persecução antimonopólio, estão compartilhando a responsabilidade e colaborando de perto, comentou Rebecca Haw Allensworth, professora da Escola de Direito Vanderbilt, ao jornal The Guardian.

Como se aproximam as eleições presidenciais americanas, talvez reste uma pequena janela para a administração Biden agir, e suas medidas podem ser anuladas se Donald Trump voltasse à Casa Branca. Domingos destaca as quase mil leis introduzidas por parlamentares para regular a IA desde o lançamento do ChatGPT. Alguns políticos são hostis às big techs e querem usar a IA como instrumento para atacá-las.

Consequências para o Setor Tecnológico

O escrutínio adicional já afeta o setor tecnológico, com as gigantes cada vez mais temerosas de adquirir startups promissoras. A pesquisa da 451 Research, especializada no setor, mostra que em 2023 as fusões e aquisições bateram o recorde negativo dos últimos anos, com o valor das transações caindo abaixo de 300 bilhões de dólares, contra 800 bilhões no ano anterior. A plataforma Capital IQ Pro registrou apenas quatro aquisições pelas grandes tecnológicas como Meta, Salesforce, Alphabet, Apple e Amazon, contra 18 em 2022.

As big tech agora têm medo de fazer aquisições, o que prejudica o ecossistema, porque muitas startups visam ser compradas e todos se beneficiam disso, defende Domingos.



Créditos: publicai.com.br

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