Shein, IPO, China, Bolsa brasileira, Meta: Desafios e Impactos no Mercado
Shein, uma ex-chinesa? Executivos da Shein têm um problema nas mãos para resolver antes de conseguirem colocar em prática o plano de realizar um IPO na Bolsa de Londres. É que movimentos da empresa e uma declaração de um executivo irritaram autoridades chinesas, o que poderia atrapalhar a capitalização.
Entenda: famosa pelas roupas baratas, ela precisa de uma aprovação da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China para prosseguir com a listagem.
Abafa: a companhia está, segundo o Financial Times, tentando esconder declarações de seu presidente, Donald Tang. Ele teria classificado a Shein como uma empresa americana, por seu modelo de negócio e gestão.
- Dois colunistas chineses contaram ao jornal inglês Financial Times que a Shein pressionou para que eles não escrevessem sobre o discurso de Tang.
- O IPO serviria como uma aprovação do movimento que afasta marcas da identidade cultural chinesa para ter sucesso no Ocidente, analisam autoridades do país, segundo fontes do FT.
Chinesa de verdade? A Shein foi fundada em 2008 em Nanjing, na China, por Xu Yangtian. Em 2021, ele se mudou com a empresa para Singapura, num movimento replicado por outros grupos e batizado de Singapore washing.
Guerra Fria 2.0. A Bolsa de Nova York era a primeira opção para o IPO da marca, mas as tensões geopolíticas entre EUA e China jogam contra, e congressistas americanos reagiram à intenção.
- Marco Rubio, um republicano crítico à China, enviou uma carta ao governo do Reino Unido na última semana pedindo que se procedesse com cautela ao permitir o IPO.
- A Shein é acusada de manter condições precárias para funcionários. Investigações apontam jornadas que chegam a 75 horas semanais.
Como funciona um IPO?
Para captar recursos e financiar projetos, empresas podem abrir seu capital, em vez de pegar empréstimos com bancos ou investidores, que têm custo maior.
- O patrimônio da empresa é dividido em um número de ações, que receberão um preço com base nas perspectivas do negócio.
- Ao comprar os papéis, investidores de todos os tamanhos se tornam sócios.
E a taxa das Blusinhas?
Aqui no Brasil, a Câmara dos Deputados aprovou na última terça-feira (11), a taxação das compras internacionais de até US$ 50 (cerca de R$ 270). A medida acaba com a isenção de imposto para compras internacionais. Para virar lei, o projeto ainda precisa ser sancionado pelo presidente Lula (PT).
- Hoje, os produtos de até US$ 50 já são taxados nos estados entre 17% e 19%. A nova taxa acrescentará 20% de imposto federal.
Os impactos na Bolsa
O mercado de ações no Brasil está no sentido contrário do mundo. A Bolsa brasileira teve o pior desempenho entre as principais economias neste ano. Desvalorizou 10,5%, enquanto nos EUA, Europa e Ásia, os mercados estão no azul em 2024.
Por quê? Os últimos meses tiveram uma série de incertezas sobre o futuro das contas públicas por aqui, com o auge na última semana. Além disso, mudanças na previsão do início do corte de juros nos EUA contribuíram.
Bolsa cai, dólar sobe. O Brasil também viu sua moeda se desvalorizar em 2024. Sim, o dólar subiu em todo o mundo, mas por aqui a alta foi uma das mais expressivas.
O real já acumula baixa de cerca de 9,74% em relação ao dólar em 2024, de R$ 4,85 no fim do ano passado para R$ 5,38 na sexta.
A desvalorização foi registrada após mais uma derrota do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em sua tentativa de tapar o buraco deixado pela manutenção da desoneração.
Com incertezas em relação às contas e ao tamanho da dívida pública brasileira, os juros de mercado sobem e o impacto negativo se dá em toda a economia.
Entenda: o Brasil tem uma dívida alta na comparação com outros emergentes, em razão de déficits recorrentes nas contas. Se o ritmo for de piora, investidores tendem a cobrar mais juros para financiar o país.
- As taxas de contratos para dez anos ultrapassaram 12% neste mês — estavam em 10,36% no início do ano.
- Para reverter isso, é preciso fechar as contas no azul, o tão falado superávit primário.
O resultado? Juros futuros mais altos esfriam a economia, prejudicam a expansão das empresas, pioram as expectativas para tomada de decisão de investimentos, encarecem o crédito e as ações na Bolsa tendem a cair.
O que esperar da semana?
- O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve dar mais detalhes sobre as opções de ajustes nos gastos.
- O Senado promete um esforço para tentar compensar a desoneração da folha de pagamento. A casa rejeitou a MP do governo Lula que restringia o uso de créditos tributários do PIS/Cofins.
- O Comitê de Política Monetária do Banco Central reúne-se na quarta-feira (19) para definir a taxa Selic. Economistas esperam uma manutenção dos juros básicos do país em 10,50% ao ano, o que encerraria o ciclo de cortes que começou em 2023.
Instagram + IA
A Meta começou a utilizar as postagens abertas de usuários do Facebook e do Instagram para treinar seus modelos de inteligência artificial. Isso quer dizer que o que você publica alimentará a nova ferramenta da empresa, batizada de Meta AI.
Por que importa: no tabuleiro do setor, a Meta segue atrás da OpenAI (cuja principal acionista é a Microsoft) e do Google, mas faz barulho no noticiário.
- Mark Zuckerberg tem se diferenciado dos rivais ao defender e aplicar em suas ferramentas o uso de código aberto.
- Isso possibilita que programadores independentes usem o sistema da Meta para criar seus próprios chatbots, por exemplo — os robôs de conversação como o ChatGPT.
Regulação avança… A Meta, e outras big techs do setor, começam a encontrar barreiras legais conforme a inteligência artificial passa por regulações. Os usuários da Europa, por exemplo, seguirão sem ter seus dados coletados. Eles também não terão acesso aos novos recursos nas redes sociais.
…e o lobby também. As empresas investiram em lobistas para defender seus interesses frente à regulação, informa o Financial Times. A Meta gastou US$ 7,6 milhões (cerca de R$ 40,8 mi) em interações com o governo no primeiro trimestre de 2024, mais do que o Google, com US$ 3,1 milhões (R$ 16,6 milhões), e OpenAI, US$ 340 mil (R$ 1,82 milhão).
E no Brasil? O Senado brasileiro discute um projeto de lei para regular o funcionamento da inteligência artificial no país, medida já defendida por ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Um dos pontos do projeto prevê classificações para os riscos de cada sistema.
Para aprofundar: Ricardo Campos, professor e jurista, escreve em artigo na Folha sobre os principais pontos de atenção à regulação de IA no Brasil.
E aqui, o colunista Marcos de Vasconcellos, explica por que a regulação no mundo deve impactar o valor das ações das big techs.
Startup da semana: Logshare
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: fundada em 2022, a Logshare usa tecnologia para conectar empresas de frete e produtores de forma mais eficiente. Entre seus clientes estão Unilever, Pepsico, Coca-Cola, Mondelēz, BRF, Leroy Merlin.
Que problema resolve: permite que empresas de frete ocupem rotas que ficavam ociosas, como a volta de um determinado destino, evitando o desperdício de espaço e de tempo.
- Hoje, 38% dos caminhões em serviço circulam vazios no Brasil sem carga, segundo a empresa.
Em números: foram captados R$ 12 milhões em rodada seed.
Quem investiu: os fundos ONEVC, Niu Ventures e FJ Labs com a participação de Seedstars, Valutia, Silence, Rally Cap e Oxygea, que administra US$ 150 milhões em investimentos em startups com foco em sustentabilidade.
Por que é destaque: a empresa não usa apenas um sistema para encaixar oferta e demanda, mas algoritmos avançados que ajustam os trajetos, simplificando operações de frete. Conforme mais clientes entram no sistema de rede integrada, novas opções de rotas e preços são oferecidas.
Créditos: publicai.com.br