Tecnologia e Inovação nas Startups de Saúde no Brasil: O Desafio dos Unicórnios

Tecnologia e Inovação nas Startups de Saúde no Brasil: O Desafio dos Unicórnios

Tecnologia e inovação têm transformado o cenário das startups no Brasil, especialmente desde que a 99 se tornou a primeira startup brasileira a atingir o valor de mercado de US$ 1 bilhão em 2018. Desde então, outras 23 startups seguiram o mesmo caminho, incluindo gigantes como Ifood, Nubank e Quinto Andar. Esse crescimento significativo coloca o Brasil como líder na América Latina, com mais da metade dos unicórnios da região, totalizando 45 startups.

No entanto, um fato chama particular atenção: das 24 startups que atingiram o status de unicórnio, apenas uma está diretamente envolvida com o setor de saúde. Esse dado é intrigante, já que desde 2019, o setor de saúde globalmente passou por um período de grandes desafios e investimentos devido à pandemia de COVID-19. Com a população mundial atingindo a marca de 8 bilhões de pessoas em 2022, a demanda por soluções inovadoras em saúde nunca foi tão grande. A única empresa que conseguiu atingir o valor de US$ 1 bilhão no setor de saúde no Brasil foi o Gympass, agora nomeado Wellhub, com foco na saúde corporativa.

Desafios Culturais e Políticos

No Brasil, um país de dimensões continentais, existem inúmeras necessidades urgentes de acesso, informação e cobertura do cuidado em saúde. No entanto, o investimento nesse setor enfrenta desafios consideráveis. O principal deles é o aspecto cultural: cada região do país apresenta suas próprias peculiaridades e demandas. Este fator contribui para um cenário político polarizado, onde os investimentos podem variar bastante dependendo das mudanças nos governos municipal, estadual e federal.

Essas variáveis resultam em maiores ou menores dificuldades na implementação de novas tecnologias e políticas de saúde. O Brasil acaba se tornando extremamente fragmentado, apesar de contar com um único sistema público de saúde, o SUS, que precisa cobrir os 77% da população que são totalmente dependentes dele.

Além dessas questões culturais e políticas, o setor de saúde no Brasil enfrenta desafios regulatórios significativos. As regulamentações são complexas, baseadas em regras tradicionais que ainda estão em maturação. Um exemplo claro disso é a telemedicina, que só foi devidamente regulada pelos órgãos fiscalizadores no final de 2022, após cerca de três anos desde o início da pandemia, que evidenciou a necessidade urgente dessa tecnologia.

Regulação e Inovação

Essa realidade reflete uma característica do setor de saúde brasileiro: o alto nível de controle das agências regulatórias combinado com a dificuldade de realizar testes com novas tecnologias. Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum o uso de ambientes de teste conhecidos como “sand boxes”, onde novos produtos e tecnologias podem ser desenvolvidos em um ambiente seguro e controlado. Como o nome sugere, são “caixas de areia” em que as crianças podem brincar sob a supervisão dos pais.

No Brasil, as sand boxes já são temas de discussão por parte do Ministério da Saúde, da Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde Suplementar. No entanto, esses debates ainda se mantêm no campo teórico, sem resultados práticos significativos. Até o momento, os testes de novas tecnologias no Brasil têm sido restritos às soluções de telemedicina e ao desenvolvimento de equipamentos médicos.

Como resultado, muitas healthtechs brasileiras buscam expansão internacional em mercados como México, Estados Unidos e Europa, mesmo antes de completar sua expansão em território nacional. O Brasil, com suas diversas realidades de saúde, torna-se um bom validador de soluções. No entanto, enfrentar as inúmeras barreiras e dificuldades operacionais internas é um grande desafio.

Oportunidades para Novos Unicórnios

Os unicórnios de saúde no Brasil só começarão a aparecer em maior número quando houver uma convergência entre os setores privado e público, juntamente com as universidades, para realizar testes que maximizem o potencial brasileiro. O país é repleto de peculiaridades, regionalismos e diferentes culturas de consumo e acesso aos serviços de saúde.

Um caso de sucesso dessa união de esforços é a startup Hi! Healthcare Intelligence, que aplica machine learning para analisar a custo-efetividade de hospitais. Após receber financiamento de fundos de investimento, implementou sua solução em hospitais privados da Rede Unimed Nacional. Além disso, foi contemplada com um financiamento público da FAPESP para atuar no setor de oncologia do Hospital de Amor, em Barretos. Esta startup é um exemplo claro de como a colaboração intersetorial pode impulsionar tecnologias em saúde.

A criação de ambientes controlados e seguros para testes de novas tecnologias, com o apoio de vários stakeholders, é essencial para que novas startups possam evoluir e eventualmente atingir o status de unicórnio. Atualmente, empresas como Alice, Conexa, Dr. Consulta, Sami, Amigotech e Beep Saúde estão liderando a corrida para se tornarem os próximos unicórnios de saúde no Brasil.



Créditos: publicai.com.br

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